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Mulher, esporte e vaidade
De volta à seleção brasileira de vôlei, após ausência de quatro temporadas, Thaisa Daher de Menezes, 36 anos, é uma das grandes apostas do técnico José Roberto Guimarães para a conquista de mais uma medalha de ouro olímpica, no ano que vem, em Paris. A jogadora do Minas Tênis Clube é dona de duas delas, alcançadas em Pequim (2008) e Londres (2012). Mais que uma craque de bola, a bicampeã olímpica é uma jogadora visceral, daquelas que incendeiam o time e que, em dia inspirado, é difícil de ser parada. No alto de 1.96 m, ela assume a responsabilidade e intimida as oponentes. Já é uma lenda.
A imponência que Thaisa apresenta em quadra também chama atenção pelo visual bem cuidado. Sim, ela é mais uma atleta vaidosa. Já colocou silicone nos seios, mudou o nariz. “Não gostava de me ver pela televisão. A imagem mostra você de lado”, contou ela, em entrevista. Fica claro, para aqueles que acompanham vôlei, as transformações no visual da jogadora, desde quando despontou nas categorias de base, há mais de 20 anos, como grande promessa do vôlei. Totalmente vingada, nunca é demais lembrar, diga-se de passagem.
Quando Thaisa ainda era criança, as morenas do caribe, como eram conhecidas as jogadoras da seleção cubana de vôlei, também incendiavam as quadras do mundo todo, com força, competitividade e um certo deboche. Tudo isso temperado com vaidade: elas se apresentavam maquiadas para os jogos, algo que não era muito comum nos anos 90. Esses ingredientes fizeram delas bicampeãs mundiais e tricampeãs olímpicas.
A vaidade que alavanca a autoestima é um componente importante na vida da maiorias das mulheres. No esporte, não é diferente. Isso tem a ver com segurança, um dos aspectos associados à boa saúde mental. Uma atleta confiante, também com o visual, decide partidas e campeonatos. Não basta treinar e ser talentosa: é necessário sentir-se bem na própria pele. “Vejo essa mudança de comportamento em pacientes que voltam ao consultório após uma cirurgia. Elas aparecem mais seguras, com um corte de cabelo diferente. A confiança adquirida, que passa pela imagem, é capaz de fazer com que trabalhem melhor, que tenham relacionamentos saudáveis, que se gostem mais”, diz o cirurgião plástico Laercio Guerra, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Um dos exemplos mais emblemáticos do que a saúde mental é capaz de fazer na vida de uma atleta é o mito da ginástica artística, a americana Simone Biles. Considerada a melhor de todos os tempos na modalidade, ela decidiu interromper a participação nas Olimpíadas de Tóquio, disputada em 2021, por não se sentir bem para enfrentar os desafios de manter o mesmo rendimento apresentado no Rio, em 2016, quando conquistou quatro medalhas de ouro.
Faz sentido: atleta sem foco pode se machucar, ainda mais em um esporte como a ginástica artística, que exige concentração máxima. Recentemente, porém, no mundial de Antuérpia, na Bélgica, Biles mostrou que já estava totalmente recuperada, com a segurança em dia, ocupando quatro vezes o alto do pódio.
Funcionalidade
Outra atleta do vôlei que parece estar com a autoestima nas nuvens, é a colega de Thaisa na seleção, Diana Alecrim, de 24 anos, jogadora do Thy, da Turquia. Em 2022, ela deixou de disputar o mundial, porque havia programado uma cirurgia ortognática, de redução do sorriso gengival. “Eu tinha vergonha de sorrir e também respirava pela boca”, disse ela, em depoimento para o documentário “Sem bloqueio”, sobre os bastidores da seleção feminina de vôlei.
De volta à equipe esse ano, o que se vê é uma atleta bonita. No caso de Diana, como se percebe, as mudanças no corpo passam, ainda, pela questão da funcionalidade ou seja, têm a finalidade de melhorar o rendimento esportivo. Oras, atleta que não respira direito pode ter o desempenho técnico e físico comprometido. “Há cirurgias estéticas que, de fato, são necessárias para melhorar a qualidade de vida ou, no caso de esportistas, para garantir a boa realização da função que se espera deles”, confirma Guerra.
A rinoplastia, conhecida cirurgia plástica de nariz, por exemplo, pode ajudar com que o ar que passa por esse órgão, durante a respiração, flua naturalmente. Inclusive durante o sono. Não dá para esperar bom desempenho de atleta que não dorme adequadamente, principalmente quando isso é uma constante. Descanso pleno é essencial também para recuperação muscular após o esforço.
Nessa seara de intervenções cirúrgicas relacionadas à funcionalidade do corpo no desempenho atlético, o médico cita, ainda, a redução de mamas. “Difícil ter boa postura ou mobilidade quando há excesso de tecido mamário. Já atendi jogadoras de vôlei, nadadoras e tenistas que reclamavam desse problema. Sem contar que o uso de sutiãs, para sustentar seios fartos, pode provocar incômodo ou mesmo lesões nos ombros. Afinal, o sobrepeso faz com que as alças pressionem essa região”, lembra Guerra. “Agora, é preciso ressaltar que o aumento das mamas, com a colocação de próteses de silicone, não traz desconforto ou prejuízos à atleta”.
Thaisa chegou a consultar o técnico José Roberto, quando decidiu turbinar os seios, há alguns anos, antes de mais uma temporada na seleção. A resposta dele foi que, se isso a deixava feliz, então estava tudo certo. O sábio treinador sabe que atleta satisfeita pode render bem mais.
Quando se fala em cirurgias, entre outros procedimentos, estéticos ou não, Guerra também lembra que há uma questão que deve ser muito estudada por atletas e por profissionais que os assistem. “É preciso saber exatamente quais substâncias serão usadas nessas intervenções, para eliminar o risco de se cair no doping, algo que mancha a carreira” diz ele. Como reafirma o médico, há regras no esporte que vão contra a vaidade sem limites.
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