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Como a dor crônica é tratada na América Latina?

Como a dor crônica é tratada na América Latina?

A dor é o principal motivo de consulta médica no mundo[1], porém, a América Latina enfrenta desafios significativos em seu atendimento que requerem soluções urgentes. Esta é uma das conclusões da Conferência Latino-Americana de Dor, organizada pela Grünenthal em Cartagena, Colômbia, em junho.

Durante a sessão “Dor crônica na América Latina: rumo a um modelo de atenção integral”, especialistas destacaram que, apesar dos avanços na compreensão e das inovações no tratamento da dor crônica, persistem barreiras de acesso que dificultam a avaliação e o manejo oportunos da dor. Isso faz com que mais de 80% dos pacientes em todo mundo, incluindo os da América Latina, não recebam uma atenção adequada para essa enfermidade.[2]

A falta de unidades de cuidados especializados representa uma das principais barreiras, segundo a Dra. Patricia Bonilla, ex-presidente da Associação Latino-Americana de Cuidados Paliativos (ALCP). “Essas unidades estão concentradas em grandes cidades ou no setor privado, e por isso não conseguem suprir a demanda dos pacientes”, aponta.

Além disso, há uma escassez de médicos capacitados para atuar nessas unidades devido à falta de treinamento em dor crônica na graduação e na pós-graduação. “Essa deficiência é agravada pela falta de financiamento para pesquisas básicas e clínicas de dor, o que limita o conhecimento epidemiológico e dificulta sua priorização nos sistemas de saúde”, complementa a doutora.

Essa situação pode levar à deterioração da saúde dos pacientes, “pois aumenta o risco de invalidez e acarreta altos custos, tanto para os pacientes como para os empregadores e para o Estado”, acrescenta Bonilla. Por exemplo, a lombalgia tornou-se responsável por 57,6 milhões de anos de vida perdidos por incapacidade.[3]

No Brasil, o cenário é similar, de acordo com o Dr. Durval Kraychete, coordenador do Ambulatório de Dor e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e co-editor do Brazilian Journal of Anesthesiology. O especialista aponta que “na maioria dos estados brasileiros, os centros de dor são raros e muita gente nem sabe que existem clínicas especializadas no tratamento da dor. Com isso, uma parcela significativa da população que sofre com dor crônica não tem acesso a uma abordagem correta da dor, que deve ser multidisciplinar, e se tem, encara um serviço que sofre com superlotação e filas de espera”.

Kraychete também enfatiza que “uma formação adequada do profissional da saúde encurta a jornada do paciente até que ele chegue a um especialista em dor, facilitando sua avaliação, diagnóstico e tratamento adequados. Sem o conhecimento suficiente, a abordagem do sintoma pode ser feita de maneira incorreta, prolongando ainda mais o sofrimento da pessoa”.

Para enfrentar esse problema, Antonio Maneu, da empresa espanhola Marketinred, especializada no setor de saúde, garante que “é fundamental repensar os modelos de financiamento do tratamento da dor crônica para alcançar um acesso mais equitativo na América Latina”. Ele indica que as abordagens usadas na Austrália[4], Estados Unidos e Reino Unido[5] podem ser usadas como referências.

“É necessário estabelecer regulamentações adequadas que promovam modelos de colaboração entre os Estados e o setor privado para o desenvolvimento de estudos epidemiológicos e ensaios clínicos locais. Com eles, os tomadores de decisão poderão avaliar a incorporação de tratamentos inovadores, com base em estimativas reais”, explica Maneu.

A conferência contou com a parceria da Sociedade Ibero-Latino-Americana da Coluna (SILACO) e da Federação Latino-Americana de Associações para o Estudo da Dor (FEDELAT), reunindo mais de 70 médicos, autoridades e representantes de instituições da área da saúde para analisar a situação atual do tratamento da dor crônica – um problema de saúde pública comum nos vários países da região – e como aprimorá-lo.

A Dra. Carla Leal, médica especialista em dor e membro da FEDELAT, esteve presente no evento e aponta que as experiências e informações compartilhadas foram muito proveitosas: “conhecer a realidade dos nossos países vizinhos da América Latina ressalta a importância de conhecermos mais profundamente a epidemiologia da dor crônica no Brasil, um país continental cujas unidades de dor ainda não estão todas mapeadas e sinalizadas para que a população tenha acesso ao atendimento adequado. As discussões realizadas no summit trouxeram à luz oportunidades de melhorias para o nosso país e novidades interessantes que podem contribuir para o diagnóstico e tratamento dos pacientes, incluindo até mesmo projetos de aplicativos e inteligências artificiais”.

A Dra. Rocío Guillén, membro da FEDELAT, enfatizou a urgência de “contar com o compromisso das autoridades para estabelecer políticas públicas que promovam o investimento necessário para um acesso mais equitativo ao tratamento da dor na América Latina”. Kraychete conclui dizendo que “ações voltadas para a educação, como a iniciativa da Grünenthal, são fantásticas. A educação é a principal forma de transformar o cenário da dor no Brasil e no mundo para melhor”.

 

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Written by: Lucas Nóbrega

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