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Ao redor da mesa, uma reflexão sobre a fome e a CF

Ao redor da mesa, uma reflexão sobre a fome e a CF

A Campanha da Fraternidade (CF) é uma ação realizada anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no período da Quaresma (quarenta dias em preparação à Páscoa) e tem como objetivo aproveitar este tempo favorável de conversão para “despertar a solidariedade dos seus fiéis e da comunidade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução”. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação.

Somando às paróquias, o ambiente escolar é também um celeiro para fomentar discussões e organizar práticas transdisciplinares, colocando em prática assuntos de nosso currículo pedagógico. Por meio dos elementos inculturadores, os educadores podem dinamizar a temática nas sequências didáticas, projetos de intervenção, investigação e transversalmente no próprio conteúdo de sala de aula.

A escola católica, de modo especial a Rede Marista de Colégios, assume como projeto educativo todos os anos a Campanha da Fraternidade. Todos os anos as novas temáticas abrem muitas possibilidades de investigação, pesquisa, conscientização e mudança. Propõe-se realizar atividades sistemáticas dentro da vida das crianças, adolescentes e jovens, encarnando a temática e produzindo efeitos na vida dos alunos, educadores e familiares. Toda ação educativa necessita do engajamento do tripé família, escola e aluno. A autêntica transformação da educação precisa do comprometimento de todos os envolvidos no processo. Unificar conhecimento teórico e prático responde ao “Cultivar e guardar a criação”.

O tema escolhido para este ano é muito provocador para a realidade do Colégio Marista Glória, como uma instituição particular localizada no bairro do Cambuci em São Paulo, mas também para toda a sociedade: Fraternidade e fome. Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).

Conforme nos orienta o texto base, refletimos que a fome no Brasil é algo crítico. Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil, 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer. Ligando à disciplina de Ciências, entendemos que a fome é um instinto natural de sobrevivência em todos os seres vivos. É algo visceral, perturbador, que só é saciada com o alimento. Como fruto da terra, o alimento deveria ser acessível a todos, ainda mais em um país com condições climáticas tão favoráveis, que nos permite até mesmo superproduções que movem a exportação. Contudo, não é o que vemos a poucos metros de nossa realidade: um abismo social em que poucos têm muito e muitos têm pouco, ou nada!

Passando à Geografia, relembramos os modos de produção agrícola, divididos na agricultura moderna e familiar. A primeira, usa altos investimentos em recursos tecnológicos para a produção em larga escala, muitas vezes sem o devido respeito ao solo e às pessoas, visando apenas o lucro. A segunda é realizada por pequenos proprietários, em um tom quase artesanal, mas que foi a base de organização da sociedade durante um longo tempo, como vimos na disciplina de História, e ainda hoje move a economia de pequenas cidades do interior de nosso país. É bem possível que tenhamos um parente ou já vimos algo que materializa a produção, até como moeda de troca para o acesso a outros alimentos. Meus avós, por exemplo, produziam rapadura no interior da Bahia, para vender na tradicional feira de sábado, no centro da cidade. Com o pequeno lucro compravam os mantimentos para a semana. Conexão com uma rudimentar Matemática, que move a economia familiar.

Em Ensino Religioso podemos resgatar o simbolismo sagrado da mesa, do altar. Um local de partilha, solidariedade, humanidade e comunhão, em que muitos se reúnem para celebrar o dom da vida nas mais diferentes denominações religiosas. Essa vivência foi levada aos nossos lares; lembra-se daqueles tradicionais almoços de domingo com toda a família reunida? As avós/nonas comandavam o fogão e demonstravam tanto amor naquilo que faziam que a comida parecia mais saborosa, mágica, mesmo que fosse algo simples, como uma macarronada com frango, uma feijoada, uma lasanha. Outras vezes os homens pilotavam as churrasqueiras, num ritual desde a preparação das carnes, os petiscos até o banquete e o pós-refeição, com músicas, histórias e muitas risadas. Quanto saudosismo!

“Ao redor da mesa, famílias e pessoas de diversas culturas se encontram para partilhar as refeições, mas também para ouvir uns aos outros e celebrar”. Uma pena nos depararmos com inúmeras calçadas de nossas cidades, repletas de pessoas que não tem este privilégio. Muitas vezes, inclusive, temos banquetes fartos nas mesas de alguns, mas miséria em outras. “Aquilo que descartamos ou desperdiçamos é, precisamente, o que falta à mesa dos famintos e miseráveis” (§89).

Poderíamos elencar outras diversas disciplinas em que o tema da fome entra no currículo, mas deixamos a reflexão para que você faça as conexões com os conteúdos. Na Quaresma, exercitemos o nosso olhar para vermos quem são os próximos que clamam por ajuda. Veja, sinta, pense e faça!

Que este tempo renove a esperança em todos estes agentes da educação. Um novo mundo é possível se conseguirmos enxergar a nobre missão de educar, mesmo em tempos tão difíceis.

Wagner Botelho é orientador pedagógico no Colégio Marista Glória, localizado em São Paulo (SP).

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Written by: Lucas Nóbrega

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