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Bixiga 70 lança o álbum “Vapor”
Sabe aquela fumacinha exalada por destroços, aquela nuvenzinha que se ergue das cinzas, das brasas escondidas, sugerindo calor, vida, resiliência, aquele vapor, enfim? Tipo “Vapor, gás resultante da mudança de estado de um líquido ou de um sólido”. Está nos dicionários.
Vapor foi o nome escolhido pela banda Bixiga 70 para seu novo disco. Afinal, desde que Quebra-Cabeça foi lançado em 2018, o mundo mudou, o país mudou, o clima mudou, as relações mudaram, as visões se alteraram e a Bixiga 70 junto. E é ela quem está aí de novo com muito gás.
Malungu, o primeiro single do disco, dá a senha para os novos tempos. Convidada para gravar uma bateria, a multi-talentosa Simone Sou trouxe este tema cujo título, na língua africana Kicongo, significa “companheiro, igual”. E a banda, com seus novos componentes, o tecladista Pedro Regada e as percussionistas Valentina Facury e Amanda Teles, que até então tateava entre revisitar a sonoridade Bixiga 70 ou se aventurar por novos caminhos pulsou junto como um só coração.
Conhecida no exterior como um agrupamento de “groove visionaries” a Bixiga 70 foi formada em 2010 São Paulo em meio ao revival afrobeat e o surgimento de uma nova geração – “saindo das telas para as praças, uma nova raça”, parafraseando um novobaiano. O nome do grupo vem do endereço do estúdio, pertencente ao guitarrista Cristiano Scabello, na rua 13 de Maio, coração do bairro do Bixiga ou Bela Vista, um mosaico de referências, de sua origem como um quilombo ao seu desenvolvimento como um dos principais redutos da colônia italiana – o que explicaria a profusão de casas de samba e cantinas, uma do lado da outra. Caso dos teatros-escola TBC e Oficina cuja importância e proximidade validam o apelido de “broadway paulista” que a região já teve. De um tempo para cá os boêmios ganharam a companhia dos nigerianos e a efervescência contínua. A todo vapor.
Além de Cristiano, a banda é completada pelos “B70-históricos” Cuca Ferreira, sax barítono, Douglas Antunes, trombone, Daniel Nogueira, sax tenor, Daniel Verano, trompete, e Marcelo Dworecki, baixo, que mergulharam de cabeça na sonoridade trazida pelo tecladista Regada, um típico representante do novo som nordestino, responsável por introduzir o piseiro e o techno-brega, entenda-se o forró eletrônico, na africanidade paulistana habituada aos Hammonds e Rhodes. O mesmo se deu com as percussionistas Amanda e Valentina. Segundo o saxofonista Nogueira “foram meses tocando com esses músicos para chegarmos onde chegamos”. No que é secundado pelos colegas. “Vapor não é uma volta da banda, mas um renascimento”, concordam.
A Bixiga 70 nasceu festejada como melhor show do ano, característica que manteve esses anos todos em que colocou o mundo todo pra dançar literalmente, do RecBeat pernambucano ao Fela Day em Amsterdam (ao lado de Tony Allen), do público do Roskilde Festival (Dinamarca), do Bananada goiano, do Glastonbury britânico, do SXSW (South by Southwest) americano ao Psicodália gaúcho. Dividiu o palco como nomes que vão dos lendários João Donato, Mateus Aleluia (Tincoãs) e Elza Soares a expoentes das novas gerações, como a banda Metá Metá, Luiza Lian, que dividiu um single com a Bixiga, e Tulipa Ruiz – com quem tocou em um casamento na Índia!
Além de Simone, Vapor conta com mais participações, a começar por outro B70-histórico, Rômulo Nardes, na percussão. Também tocam no disco Mayara Almeida, saxofone e flauta, Marcelle Barreto, teclado e Vitor Cabral, bateria. Cabral, a exemplo de Simone (e de mim mesmo), tocou na Isca, uma das bandas de Itamar Assumpção (Simone tocou nas Orquídeas também!).
É indiscutível que a Bixiga 70 não só evoluiu seguindo sua linha como se aventurou e, se mudou, mudou para melhor. Temas como Na Quarta-Feira (segundo single lançado), Parajú e Marginal Elevado Radial (que não nega a origem paulistana) seriam impensáveis sem o período pesado que passamos, sem a eletrônica, sem a gana de subir nos palcos de novo, sem o “sangue-nos-óio” aliado a (um) novo(s) olhar(es). A última música do disco é Lua Loa, nome inspirado na filha do baixista Dworecki. Uma prova do desenvolvimento psico-acústico experimentado pela banda, um tema mais ambicioso, intrincado e envolvente. Como diz Ferreira, “achávamos que se tocássemos juntos no estúdio iríamos captar a energia dos nossos shows. Descobrimos que não era bem assim Com o tempo começamos e estamos aprendendo a captar esse vapor”.
Luiz Chagas
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