Intitulada “Tempo e espaço durante o devaneio”, a obra integra a exposição “Sensações: Pintura Gestual Chinesa” do artista Mzyellow, que está em cartaz no Museu da Chácara do Céu, no alto de Santa Tereza, desde 19 de agosto.
“A instalação traz o estilo peculiar do artista que é refletir, desconstruir e transformar os ideogramas chineses, uma das mais altas expressões culturais e artísticas do povo chinês, em uma nova linguagem gestual e visual”, conta o curador da mostra Clay D´Paula, que também é especializado em arte contemporânea chinesa.
Arte diferenciada que inspira sonhar
A produção de Mzyellow, com suas linhas que dançam sobre o papel de arroz e sobre a seda, evocam eventos cósmicos, que refletem o presente e o passado, em uma interação constante. É, também, uma tradução da nova China moderna e pulsante, um país que, nos últimos trinta anos, saltou de uma sociedade empobrecida e isolada para a segunda maior economia do planeta, rumo à liderança mundial.
“A minha parceria com o Clay abriu novos horizontes no País, pois tenho mais uma oportunidade de apresentar a cultura chinesa aos brasileiros”, afirma Mzyellow.
“A instalação de Mz também carrega uma poderosa estrutura óssea de grande vigor gestual, com traços que imprimem saberes coletivos e o próprio eu interior do artista”, complementa o curador.
Dinamismo e efervescência curatorial
A instalação, de mais de 10 metros de altura, é apresentada na Biblioteca de Castro Maya (separada da coleção que compõe a mostra). Ela ficará justaposta com outras criações de diferentes estilos e períodos. “No lugar do museu dócil (aquele que apresenta as obras de arte em uma narrativa linear, cronológica e pautada em critérios objetivos), abrimos espaço para o museu de encantamentos, no qual o visual e as emoções se sobrepõem ao academicismo e à linguagem pedagógica”, diz o curador. A proposta do curador Clay D´Paula se alinha à prática curatorial do colega francês Jean-Hubert Martin. “Essa é uma forma de ultrapassar a nostalgia da história e mergulhar nos desejos, medos e esperanças da humanidade, cristalizados nas imagens, nos objetos e obras de arte”, teoriza e reflete o curador.
Mzyellow e Modigliani em sintonia
Nessa perspectiva, a instalação “Tempo e espaço durante o devaneio”, 2023, criada especialmente para esta exposição por Mzyellow, é colocada lado a lado de outras pinturas e objetos de diferentes estilos e períodos. Mas olhado para o conjunto, sintonias se revelam. Tanto a obra de Mz, como a de Amadeo Modigliani (1884-1929), Retrato de uma jovem viúva, s/d, usam tinta chinesa ou nanquim; já a pintura Deusa Kouan-Yin / Bodisattva, da época da Dinastia Ming (1368-1644), de autoria desconhecida, foi criada em solo e estilo chinês, como revela a historiografia da obra.
Sobre Mzyellow
Nascido em 1957, e residente em Suzhou, a uma hora de carro de Xangai, a cidade mais populosa da China, Mzyellow acompanhou a guinada econômica global em seu país e sua obra foi impactada por ela. Assim, ao mesmo tempo em que domina com maestria técnicas chinesas milenares, Mz também faz uso de elementos ocidentais, como tinta acrílica, verniz, corantes e telas. Propõe uma sobreposição poética entre Oriente e Ocidente, convidando a uma reflexão sobre as confluências – e os embates – culturais entre civilizações.