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Herbário da memória / Herbario de la memoria

Herbário da memória / Herbario de la memoria

A poeta Katia Marchese, autora dos livros Por favor, diga meu nome (2019) e Mulheres de Hopper (2021), lança em janeiro de 2024 sua nova obra, o bilíngue Herbário da memória / Herbario de la memoria, uma seleção de 16 poemas em português traduzidos para o espanhol que, segundo a autora, é uma “coleção de melancolias de tudo aquilo que irá nos faltar”. Nesta obra, Katia funde corpo humano e natureza vegetal, explorando as parecenças e encontros dessas duas experiências de vida.

Há três lançamentos já marcados: um na Livraria Candeeiro, em Campinas, onde a escritora mora atualmente (dia 25/1, quinta-feira, 18h30), um na Casa das Rosas, em São Paulo (dia 24/2, sábado, 14h), e um terceiro no Espaço Giro, em Santos (dia 15 de março, sexta-feira 19h30).

O herbário é uma coleção de espécies que vão sofrendo o apagamento progressivo que submete flores, folhas e outros elementos vegetais – o que também aproxima a obra de Katia de um aspecto ecológico ao evocar essas imagens e as urgências de mantê-las vivas. Um dos poemas, Profecia, é inclusive oriundo de um diálogo da autora com o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak, e traz como prefácio a frase “quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo para cima”, de autoria de Ailton.

As metáforas florais ou vegetais (clorofila, buganvílias, tulipas, cebolas, davallias, sarças, chapéu de sol) são uma forma atual e propositiva de entender o mundo, uma espécie de ética contemporânea, traduzida em versos e em registro literário que convida o leitor a participar desse movimento. “O herbário traz as naturezas que estão morrendo em nós – nos nossos corpos e nos corpos vegetais”, complementa Katia.

A poesia da autora comporta imagens ricas e contraditórias. Em Clorofila, o trabalho de produção e distribuição do alimento pelo espécime vegetal é comparado à circulação sanguínea. É assim que se combinam imagens inesperadas como a da seiva, do sol e do sangue, que bombeado demasiadamente ao coração, ameaça explodi-lo.

Sobre a escolha de escrever um livro em português e espanhol, a autora diz querer com isso trazer na sua forma um exercício de tradução consigo mesma, resgatando uma memória ibérica, já que seu avô materno é galego e, ainda que tenha morrido quando Katia tinha seis meses, suas recordações foram repassadas à ela por meio de sua mãe. “Uma das partes do livro evoca justamente essa fusão do corpo com o passado, de fazer partes da nossa existência reviverem pela memória e também olhar a relação das próprias plantas com a ancestralidade”, conta a escritora, reforçando que esse herbário de memórias busca as conexões que temos com as plantas e o que elas têm a ver conosco.

O projeto gráfico do livro, de autoria de Sílvia Nastari, utiliza uma sobrecapa com impressão de flores e folhas secas, um herbário visual que acompanha as duas dimensões poéticas do livro: a memória sentimental, permeada de subjetividade, e a passagem do tempo cronológico e imemorial, afetado pelos elementos naturais e seus impactos materiais e afetivos.

Sinopse
Herbário da memória, novo livro de Katia Marchese. Em edição bilingue, esta coleção de poemas se relaciona com espécies vegetais que são, a um só tempo, um mostruário de folhas e flores, um catálogo de emoções e um recenseamento de memórias. São versos sobre a percepção dos corpos em fricção, sobre registros familiares, sobre afetos persistentes, a crise ambiental e a intersecção entre subjetividade, observação, florescimento e outros ritmos vegetais. Alguns poemas carregam a melancolia da falta e da devastação da natureza, apontam para um futuro imprevisível e um iminente desastre. Nas palavras visionárias da poeta, este herbário é uma “coleção de melancolias de tudo aquilo que irá nos faltar”.

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Written by: Lucas Nóbrega

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