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No Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino (19/11), duas médicas e uma enfermeira, sócias da empresa ECMO Minas e as primeiras a implantar um centro de ECMO na capital mineira, revelam sua luta pela democratização do uso da terapia para salvar mais vidas entre os casos graves de Covid-19 e de outras doenças.
Uma equipe de três mulheres (duas médicas e uma enfermeira), especialistas na terapia ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), popularmente chamada de “pulmão artificial”, protagonizam a missão diária de salvar vidas, em várias regiões do país, de pacientes em situação grave com complicações respiratórias ou cardiorrespiratórias provocadas pela Covid-19 ou outras doenças. Exemplos de empreendedorismo jovem e feminino, as médicas Ana Valle e Marina Fantini, de 31 e 36 anos, e a enfermeira Izabela Rodrigues, 32, foram as primeiras do país a coordenar a implementação de um centro privado especializado em ECMO, na capital mineira (no Hospital Mater Dei). Mesmo antes da pandemia, se uniram para criar a empresa ECMO Minas, sem nenhum tipo de aporte externo, motivadas pelo sonho de ampliar o acesso da terapia no país e salvar ainda mais vidas.
O empreendimento, totalmente especializado nessa terapia, apresenta um modelo de negócios pioneiro e diferenciado, que leva equipe e equipamentos até onde o paciente estiver. Dentre os casos graves de Covid atendidos por elas, 62% se recuperaram e tiveram alta (com idades entre 14 e 58 anos, incluindo uma gestante, uma puérpera e uma adolescente) – uma taxa de sucesso mais alta do que a média nacional (40%) e mundial (49%), segundo estimativa da ELSO (Extracorporeal Life Support Organization) – entidade responsável por padronizar os procedimentos e acompanhar as melhores práticas do uso da ECMO em todo mundo.
“Apesar de ter se popularizado durante a pandemia, a ECMO já era usada no Brasil há mais de 15 anos, no apoio a cirurgias cardíacas e no atendimento a quadros graves, como pneumonia severa, aspiração de mecônio por bebês e transplantes. Trata-se de um procedimento complexo, com alto custo e que envolve riscos, não é para aventureiros. A nossa intenção não é popularizar e sim democratizar a terapia para que mais pacientes possam ser salvos”, explica a médica cardiologista Marina Fantini, diretora da ECMO Minas.
A ECMO tem a função de substituir o pulmão ou o coração quando eles não estão funcionando de forma adequada. Um suporte para que esses órgãos “descansem” enquanto o organismo combate a infecção. “O tratamento envolve muito mais do que o equipamento. O sucesso dos casos está atrelado à equipe que atua nos cuidados com o paciente. O ideal é atuar no procedimento com um time multidisciplinar e capacitado, com cirurgiões cardíacos, médicos intensivistas, fisioterapeutas, enfermeiros em um acompanhamento 24 horas”, explica a especialista em ECMO e diretora clínica da ECMO Minas, Ana Valle.
No mundo, atualmente, há cerca de 521 centros especializados em ECMO e certificados pela ELSO, que juntos totalizaram mais de 18 mil atendimentos apenas em 2020. O número é 6 vezes maior do que o registrado em 2010, quando houve 3 mil atendimentos. A quantidade de centros especializados também saltou de 185, em 2010, para 521, em 2020. A maioria desses centros se concentra na América do Norte (312 centros), seguida pela Europa (101), Ásia (49) e América Latina (39). O Brasil conta com 29 centros de referência, a maioria na região sudeste e em capitais. Segundo dados da ELSO, antes da pandemia, eram realizadas de 150 a 200 terapias de ECMO por ano no Brasil, sendo grande parte, por problemas cardíacos. Com a pandemia, a demanda já passa de 800 casos, sendo que 85% dos procedimentos estão relacionados à Covid-19.
A portaria nº 1.327/2021, publicada no dia 23 de junho deste ano, pelo Ministério da Saúde, definiu que a terapia ECMO não terá cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS). Também não é aceita por todos os planos de saúde. Para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec), que avaliou a proposta, a terapia tem custos muito altos e o sistema de saúde público brasileiro ainda não dispõe de unidades suficientes, com infraestrutura para a instalação da ECMO. “A nossa experiência comprova que, a médio e longo prazo, o procedimento traz uma economia para os cofres públicos, já que os pacientes podem ficar menos tempo em UTI, reduzindo os gastos da internação. Além disso, pessoas submetidas à ECMO retornam às suas atividades laborais de forma mais rápida e sem sequelas”, argumentam. Em 2015, a incorporação da ECMO já havia sido discutida pela Conitec e a justificativa pela decisão da não incorporação do tratamento foi semelhante.
A ideia de criar a ECMO Minas surgiu quando a cardiologista pediátrica dra. Marina Fantini conheceu um recém-nascido em 2014, que precisou passar por uma cirurgia, mas acabou tendo complicações e não resistiu, embora pudesse ter tido chances de sobreviver caso a ECMO estivesse disponível no centro cirúrgico. A história mobilizou a médica, que, a partir daí, foi buscar informações em outros países e realizou uma imersão em ECMO, se especializando na área.
A coordenadora de Enfermagem e também sócia da ECMO Minas, Izabela Cristina Fernandes Rodrigues, teve sua primeira experiência empreendedora em outra área. Em 2015, deu uma pausa na carreira para apostar em um projeto de gastronomia, na capital paulista. Sentindo falta da sua área de formação, retornou, no ano seguinte, como consultora de Life Science e Health Care da Deloitte. Em 2018, pouco depois de um intercâmbio em Toronto, no Canadá, escutou pela primeira vez a palavra ECMO. Em 2019, novamente em Belo Horizonte, iniciou sua segunda passagem pelo Centro de Terapia Intensiva da Rede Mater Dei de Saúde. “Lembro do alvoroço que foi a estreia da ECMO no CTI e de como aprendi com outras dezenas de casos. Foi aí que decidi me especializar na área e seguir esse caminho”, lembra. Izabela é enfermeira intensivista, especializada em Auditoria na Área da Saúde pela rede de ensino Albert Einstein e em ECMO pela ELSO. É também enfermeira de referência em ECMO da equipe de enfermeiros da Rede Mater Dei de Saúde, sendo responsável pelos treinamentos e formação destes profissionais.
Já a sócia e diretora clínica da ECMO Minas, dra Ana Luiza Valle Martins, teve a oportunidade de vivenciar uma experiência em um dos maiores centros de terapia intensiva do mundo, em Bruxelas, na Bélgica. Além de Research Fellow no Hospital Erasme de Bruxelas, se aperfeiçoou também junto ao grupo de ECMO da Universidade de Toronto (Canadá), um dos berços da ECMO no Ocidente. Ao voltar ao Brasil, inconformada com a ideia de que muitas vidas poderiam estar sendo salvas nas UTIs, com o uso da ECMO, decidiu agir para mudar esse cenário. “No Brasil, encontramos uma realidade diferente e muita resistência. Mesmo assim, ao lado das minhas duas sócias, decidimos levar adiante esse propósito: ampliar o acesso à ECMO para mais pessoas e ter um empreendimento focado em cada vez salvar mais vidas”, conclui.
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