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Liderança feminina e o desafio de ocupar novos espaços
Primeira presidente da Câmara Britânica em 105 anos, Ana Paula Vitelli reconhece desafios no comando da entidade centenária e destaca a importância de lideranças femininas no mercado de trabalho
Desde março de 2020, a executiva de empresas, professora de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional no Global MBA da Alliance da Manchester Business School e doutora pela FGV – EAESP, Ana Paula Vitelli, está à frente da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). A primeira mulher presidente em 105 anos de existência da entidade no País, assumiu a gestão logo no início da pandemia do coronavírus e em um cenário não só de incertezas globais, mas, especialmente, em um período em que a Câmara necessitava de uma guinada para manter as atividades associativas em pleno funcionamento. “Tinha essa questão de não saber o que aconteceria naquele momento. E então, sendo a primeira mulher dentro de uma instituição tradicional, era um desafio adicional. Eu me inseri em um espaço de maior visibilidade e ao mesmo tempo precisava fazer as coisas funcionarem”, afirma.
Ana Paula Vitelli, juntamente com todo o time interno da Britcham e membros do Conselho Administrativo, passou a realizar um trabalho mais efetivo especialmente com uma maior proximidade do governo britânico no Brasil, resultando em uma troca de relacionamentos, em especial junto à Embaixada e ao Consulado Britânico em São Paulo. “Tinha uma estratégia sendo delineada e a Britcham precisava de ajuda, efetivamente, para se reposicionar, tornar-se mais relevante”, conta a presidente. Nessa proximidade com a Embaixada e o Consulado, o trabalho que era feito por eles junto às empresas poderia ser absorvido pela Britcham, e assim, trazer mais associados para a Câmara. “Foi um movimento muito forte, com muito apoio do governo britânico e que deu mais visibilidade à Britcham”, frisa Ana Paula. Com todo esse esforço, nos últimos dois anos, a Câmara conquistou novos associados, passou a realizar novas atividades e contou com mais eventos.
Ana Paula destaca o cenário em que, em geral, grandes empresas são comandadas por homens, muitas delas em setores tradicionalmente masculinos. “Se essas eram algumas das empresas que trafegavam na Câmara, inclusive no Conselho, era mais rara a presença feminina. Com a minha chegada procurei trazer mulheres para o Conselho e gerar um pouco mais de diversidade. Então, acabou sendo um feliz momento de unir essas diferentes frentes”. Para Vitelli, as mudanças que começaram a dar certo na Câmara certamente vieram mais pela novidade de ações e novos projetos do que pelo fato de ela ser mulher. “Estávamos diante de um contexto adverso e precisávamos dar uma guinada, algo que fosse abraçado por todos os lados. Eu sempre estive muito próxima das atividades, me envolvendo muito com as questões do dia a dia e houve um trabalho de relacionamento com outros líderes na Câmara que foi importante. Isso de trazer as pessoas para perto é algo que acho muito importante”, salienta.
Hoje, a Câmara Britânica conta com mais comitês, teve a mobilização de novidades e atividades, webinars, reuniões setoriais positivas, além da agenda de advocacy. “Quando você começa a criar uma onda positiva, todos começam a comprar essa ideia e o engajamento e motivação crescem substancialmente”, afirma.
Em 2012, a presidente da Britcham concluiu seu doutorado, na FGV-EAESP, com uma pesquisa sobre mulheres como gestoras no Brasil, tese que foi premiada como melhor pesquisa de pós-graduação daquele ano na FGV. Especialista no tema, Ana Paula Vitelli entende que a mulher, ao longo do tempo, não esteve tão exposta a determinadas experiências a que os homens se expuseram com mais facilidade.
Conforme Vitelli, é comum não ver a mulher ocupando altos cargos, não por falta de competências, mas porque não faz parte do universo do pensar de forma orgânica. “No momento em que você começa a sensibilizar as pessoas para esse tema, são abertas mais oportunidades para as mulheres”. Na visão dela, ainda será preciso algumas décadas para que esse processo seja mais natural. “Estruturalmente, ao longo do tempo, as mulheres não estiveram ocupando espaços que os homens já ocupavam”, sintetiza. Para a presidente da Britcham, estar em um cargo de tamanha grandeza acaba por dar mais visibilidade para outras mulheres e auxiliar em toda essa trajetória.
Vitelli aponta que a mulher é muito mais exigente consigo mesma e se cobra muito mais. Nesse sentido, ela destaca estudos que mostram que as mulheres, quando vão se candidatar a algum tipo de trabalho que tenha, por exemplo, cinco itens de exigência, avaliam se preenchem exatamente os cinco pontos, caso contrário, não se candidatam. “O homem, não, se preencher dois ou três, acaba tentando. Acho que o homem tem, normalmente, e de novo – por condições históricas mais amplas – um espaço de ousar mais, até porque entende-se que o homem precisa ser aquele que está lá no mercado de trabalho. A mulher adentrou o mercado de trabalho mais fortemente somente depois da década de 1970 e assim, ocupou esses espaços mais tardiamente”, avalia.
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