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Pesquisa inglesa revela que existe um anseio generalizado por uma sociedade mais amável e apenas uma em cada oito pessoas quer “exatamente como era antes”. Em Belo Horizonte, sociedade e empresas criam movimentos que promovem bem-estar coletivo.
No portão da casa da aposentada Beatriz Aguiar, uma caixa de feira pintada à mão virou espaço para doações entre os vizinhos. O nome, caixa da partilha, dispensa explicações e tem fluxo permanente de alimentos, roupas e outros objetos que passam a doados em uma corrente anônima do bem entre os moradores do bairro Santa Rosa, em Belo Horizonte.
“Eu sempre estive ligada às causas sociais e, com o isolamento, o jeito de seguir colaborando foi colocar a caixa no portão. Pintei com meus netos para ela ficar bonita, colocamos o nome e ela passou a funcionar como um movimento de gentileza. Os motoristas do ônibus que passam aqui na porta contribuem. É muito emocionante ver essa energia positiva ampliar” explica Beatriz.
O biólogo Fabrício Ker, 39 anos, ficou surpreso ao receber um livro e uma carta de uma desconhecida. Era a vizinha do prédio ao lado de sua casa, Luíza Ribeiro, que acompanhava a rotina de brincadeiras dele com sua filha Liz Ramirez Ker, 4 anos, durante o isolamento. “Ela se apresentava na carta e emprestava o livro de um jeito tão carinhoso que tocou toda a família” comenta.
Para Luíza, a janela era e ainda é uma possibilidade de sonho e mandar um recado amoroso foi reflexo desse mix de sensações de pandemia: “Sou educadora e ver as crianças me enche de alegria e leveza. As cenas de brincadeira dos dois me alegravam e eu queria retribuir. Por isso, mandei a cartinha.”
Leveza e gentileza têm sido ainda mais valorizadas pelas pessoas depois do isolamento social. De acordo com um artigo recente do jornal “The Guardian”, uma pesquisa realizada para a consultoria de estratégia BritainThinks revelou que apenas uma em cada oito pessoas quer que a vida seja “exatamente como era antes” quando a pandemia de Coronavírus terminar.
O artigo afirma que existe uma demanda generalizada por uma sociedade mais amável, que “permita às pessoas mais tempo com a família e os amigos e que se preocupe com os relacionamentos e com meio ambiente”.
E o mercado está atento à essa mudança. A consultoria global EY Parthenon encontrou, no ano passado, uma aceleração do comportamento social entre os brasileiros. Dos entrevistados, 70% disseram que agora prestam mais atenção aos impactos sociais dos produtos que compram. E o modo como são tratadas durante o consumo de bens e serviços é ainda mais importante. De olho na crescente demanda pela gentileza e leveza, algumas marcas têm fomentado iniciativas para propagar experiências positivas.
Como é o caso da Papel Craft, uma rede de lojas de design do eixo Rio-SP que chega à BH propondo a experiência “Leve Leveza, Leve Boa Notícia”. A ideia é convidar pessoas a experimentarem mais momentos positivos em suas vidas e compartilharem essas vivências em suas redes de relacionamento, presenciais ou virtuais. Para Juliana Mussel, gerente de marketing da rede, a proposta é dialogar com o consumidor mineiro de forma mais afetiva, criando um relacionamento com a marca ainda mais próximo e cheio de significado. “Minas Gerais é considerado um mercado teste para diversos segmentos porque o consumidor é mais exigente em relação não só à qualidade, mas à confiança construída no relacionamento com as marcas. Por isso quisemos fundamentar o nosso diálogo a partir da leveza, que é um de nossos valores que mais têm feito à diferença desde o início da pandemia”, explica.
A gerente da loja de BH, Lia Duarte, está animada com a ideia de criar uma onda de vibrações positivas entre seus clientes: “Entendemos que a gentileza e a leveza são necessidades importantes no mundo e por isso planejamentos cada detalhe da nossa loja para que a experiência de compra seja única, cheia de afeito e significado. Com a experiência Leve Leveza, Leve Boa Notícia, poderemos expandir essa sensação para fora dos limites da loja, criando uma verdadeira rede de alegria e bom humor, tão necessárias neste momento em que todos estamos cansados e necessitados de atenção”, complementa.
A carioca conta ainda que a proposta de atendimento da empresa segue a lógica do afeto e da leveza nos relacionamentos de forma natural. “Abrimos a loja na pandemia e depois de 10 dias, estávamos fechados. Eu não conhecia ninguém na cidade e precisava fazer o negócio andar. Com total apoio da empresa, mantive toda a equipe em isolamento social e fui trabalhando importância de um relacionamento atencioso com os clientes, mostrando que estar disponível à demanda do outro deve ser um processo natural e não apenas uma estratégia de negócio. Hoje temos clientes que vem aqui na loja nos visitar, partilham momentos especiais conosco e até nos presenteiam. Ficamos amigos de muitos deles, de verdade. Trabalhar assim é produtivo e prazeroso. E gera satisfação e lucro, claro!” comenta.
Um caderninho de presente permitiu uma experiência inusitada à advogada Raquel Dias. “Conheci a Lia, a gerente da Papel Craft de BH, durante uma troca de produtos. Estávamos no começo da pandemia. Insegurança. Medo. Caos. Dúvidas. Era este o cenário. Dentro deste cenário, ela trouxe leveza e delicadeza nas relações. Uma escolha constrói pontes entre as pessoas, fideliza o cliente, pode dissolver conflitos, toca a alma e vai ao encontro da colaboração, postura que nos salva do egoísmo e que abre caminhos. Agora não apenas sou cliente como me sinto respeitada como indivíduo”.
Para a psicanalista Juliana Lara, 43 anos, a base da relação do consumo é a afeição. Para ela, a experiência em um mercado gentil e honesto é fundamental “Minha ‘história na Papel começou há anos, em São Paulo. Vi a loja na rua, entrei e apaixonei. Na psicanálise a gente chama isso de identificação. Tentando entender por que sou cliente há tantos anos, vi que a história da empresa remete ao sonho, à gentileza e à leveza. Isso faz com o propósito seja mais denso, ultrapasse o valor de negócio e isso permite a partilha. Eu não me sinto cliente, sou parceira da loja, da gerente Lia. E confio a ela a missão de traduzir afeto aos que eu mais amo quando vou presentear. Isso não se faz com discurso ou estratégia. Eu vivo isso. E, agora, em BH”.
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